quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Bem domesticada

-Sou uma pessoa esquisita! Não sirvo pra nada!
-Será mesmo? Ou fizeram você acreditar nisso?
Ele deve ter razão. É, ele tem razão!
Talvez a esquisita não seja eu. Talvez, realmente, me empurraram essa idéia goela abaixo. Talvez eu sempre fui uma pessoa normal, não havia nada errado, mas ela precisava fazer acreditar nisso para, assim, me dominar. Talvez seja isso mesmo! Talvez seja por isso que hoje eu acredito nisso, e me desvalorize, me desmereça tão facilmente.
Deve ser essa a explicação!  Ela me empurrou, me vendeu a idéia da esquisitice, da monstruosidade, e eu, muito ingenuamente, assumi a personagem. Mas agora que descobri, agora que entendi o porquê ela insistia em me humilhar, em imputar uma inferioridade que não existia, darei um basta. Chega! Ela me fez acreditar que havia algo de errado, que eu precisava de mudança, quando a verdade era justamente outra, não há nada de errado em ser como eu sou.
Com os seus pensamentos em transito, saiu do terapeuta meio aliviada, meio perturbada, meio transtornada e meio enfurecida. Dirigiu por horas sem destino, mas resolveu voltar para casa.
-Se perdeu pelo caminho pra demorar tanto?
-Não. Só perdi a noção do tempo, foi isso!
-Acha que todo mundo é como você, que não tem hora pra nada? Custava ter ligado avisando que iria perder a noção do tempo?
Quis responder, quis soltar um palavrão, quis matar aquela velha filha da puta, mas a única coisa que foi capaz de fazer foi encolher os ombros e se esconder no quarto. E na  solidão do seu espaço acabou percebendo que foi bem domesticada para se erguer contra a adestradora.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tempos de ausência

A Imaginação não floresce quando é tempo de ausência das palavras. 
Em tempos de ausência só se cultiva esse silêncio perturbador.

Coração Apaixonado

Eu fiquei ali assistindo os dois por uma tarde inteira.
Eles nem me perceberam, preocupavam-se apenas com aquela brincadeira que construíram como desculpa para o toque. Ele puxava a mão dela para o peito, e ela sentia o coração dele batendo. Ela, então, puxava a mão dele e enroscava-a na sua. Ele se soltava dela e puxava novamente para o peito. E ela, com uma autoridade macia, desrespeitava a vontade dele e puxava mais uma vez a mão dele enroscando-a na sua.
Perdi a conta de quanto fizeram esse movimento mecânico. E não me importei.
Deixei os pensamentos correrem naquele ritual. Talvez por falta de imaginação, da velhice precoce, ou sei lá o que, não consegui achar sentido para aquele ritual.  E nem sei se precisava realmente catalogar a atitude daqueles dois para que algo fizesse sentido. De repente percebi que minha ignorância não importava e não mudaria o sorriso dos dois. E assim, sem pensar nos porquês, que sempre me perturbaram, fiquei ali assistindo a eles, naquela brincadeira que trazia ares de romance, naqueles gestos que me faziam invejar quem carrega um coração apaixonado.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Analisando a vida

Me pergunto o quanto posso ter mudado. Sei que em dez anos muitas mudanças ocorreram, mas destas quais realmente foram da raiz, profunda, a ponto de dizerem que não me reconhecem?
 Sei que mantenho algumas manias, alguns tiques, coisas que realizo no autômato e nem percebo.
Sei também que coleciono os mesmos amigos, colegas e conhecidos. Excetuando algumas recentes inimizades e desafetos, mantenho quase o mesmo rol, onde ora acrescento ou risco os recém conhecidos, mas isso porque ainda mantenho a mesma desconfiança do passado.
Quando penso nas mudanças percebo que em minha vida, infelizmente, muito pouco foi modificado. Em dez anos aprendi muita coisa, desgostei de muita coisa e realizei muita coisa, mas quando realmente reflito sobre esse período, parece que nada saiu do lugar, que tudo continua muito igual, os mesmos hábitos, as manias, os tiques...e não consigo enxergar mudança nenhuma, apenas eu estagnada no mesmo lugar. 
Talvez seja apenas impressão, e que para entender da minha própria vida eu  preciso enxergá-la ao longe, com um olhar critico, como quem enxerga a vida de outra pessoa.  Talvez realmente meu olhar esteja viciado, que eu creia que mantive a mesma pessoa viva por tempo demais apenas na tentativa de reviver o passado.
Mas o importante é que tenho me feito perguntas e percebido o quanto dos dez anos me mantiveram presa a algo irreal.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Joguinhos do coração

Joguinhos do coração sempre me confundiram, e quanto mais o tempo passa menos eu os entendo. 
É uma pratica invertida, quanto mais desempenho papeis e personagens, menor a minha habilidade no jogo.
Por isso prefiro o basico, onde jogam-se com frases limpidas e claras, desviando das segundas intenções, com uma objetividade quase pura. Mas não tão pura, afinal, completa transparencia também desestimula quando entregue em uma unica dose.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Meus bons e velhos amigos

Então que eu teria que sair da roça e ir para Brasília, e claro que dentre cinco companhias eu escolhi a que era mais cara, com um trajeto mais longo, e conseqüentemente mais estressante (ignorância e azar o meu!). Mas passadas doze horas chego ao meu destino, com muito sono e doida para matar a saudades dos velhos e bons amigos. 
Todo o estresse é aliviado pelo longo abraço que ganhei e pela saudades que comecei a matar assim que encontrei com eles.
Era tanto o que falar, fofocar e relembrar, que fazer caber em três dias todo o afeto tornou-se tarefa impossível.  
E a saudades ficava sempre lá, rondando a conversa, nos lembrando que logo logo ela voltaria a reinar. 
Bastou amanhecer a Segunda e vir o abraço da despedida para novamente ela se apossar do meu peito, me enchendo de novo com aquela sensação de quem abandona bons e velhos amigos, que só ela consegue fazer traduzir.
Exigências me afugentam.  Quando sinto que me cobram, que me sugam e querem mais, me afasto o mais rápido. Evitar a intimidade já faz parte da personalidade.  No entanto, já compreendo o porquê querem sempre mais e mais, é inevitável querer estar sempre ao lado, querer conhecer, quando se está apaixonado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Feitos um para o outro

Talvez o que vejam neles seja exatamente aquilo que resuma o “feitos um para o outro”. Eles têm isso de completar frases, reconhecer as vontades pelo olhar, saber dos trejeitos, entender o coração um do outro.
 É tanta cumplicidade, conhecimento um do outro que até parece que é o mundo quem invade a vida deles, que é a vida quem se intromete naquele amor. Parecem sempre assim “feitos um para o outro”.
E é essa imagem de viveram felizes para sempre que a dinâmica deles vende para todo o resto da humanidade. São fieis, são honestos, se experimentam, se amam... Mas no fundo, bem no escuro dos pensamentos cada um sonha com outro, fantasiam com corpos diferentes e com sussurros de vozes roucas que eles não conhecem, mas desejam conhecer.
No fundo, bem lá no escuro, cansaram de brincar de “feitos um para o outro”, querem mesmo é viver uma vida de verdade.
Até no intimo mais obscuro são “feitos um para o outro”, alimentando os mesmo sonhos e sustentando a mesma mentira.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Estou assim...transbordando!

A alegria é tanta que nem a poesia seria capaz de traduzir toda a essência da felicidade.
Estou assim... Assim... Assim... Tão grande, tão gigante, precisando de mais espaço para tanta felicidade!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Tarefa dificil

Não acredito em príncipe encantado, em amor a primeira vista, em alma gêmea, e no viveram felizes para sempre, mas em todo caso, te dou uma chance para que me convença que é possível crer no amor.
Te dei a chance, e você me deu o melhor beijo, a melhor sensação, o melhor romance.
E agora me divirto com seu esforço e tentativas para me convencer em confiar em você. Tarefa difícil!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Protocolos sociais

Vivo entre os desejos e a realidade.
Experimento a euforia de uma vida só minha.
Corro para essa ficção particular em busca de um sorriso, que na superfície, possa e pareça verdadeiro. 
No meio dos delírios o alivio sempre surge. E com a visão viciada concluo que viver num planeta particular, desconectado da realidade, é mais fácil que executar os protocolos sociais da vida de todos os outros.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Retomando a posse

Levaram a minha auto-estima.
Não. Eu permiti que a levassem, que a sequestrassem, que a subjugassem. Permiti que surrupiassem aquela personalidade, que até então aparentava ser indestrutível. Permiti que esmagassem a confiança, que ate então ostentava um verniz incraquelavel.
Eu permiti e levaram minha parte mais honesta, o melhor de mim embora. E o corpo ficou pendendo pela vida, a vontade adoeceu, e o pendulo seguia no autômato.
Mas agora retomo a posse. Exijo o fim do seqüestro. Reinicio a vida no modo manual respirando antigos e adormecidos sonhos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A 700 km

Podia jurar que ele a viu, que ele estava naquele ônibus. Como ele conseguia traduzir tudo aquilo que batia no peito dela, como podia entender o porquê das lagrimas, se eram quase 700 km que o separavam?  Ele conseguia descrever tudo aquilo que ela carregou durante a viagem como se tivessem compartilhado as doze horas.
Ele não estava lá, mas sabia. Entendia que a distancia das doze horas a fez refletir, a repensar na confiança, a perder para a insegurança. E ele sabia dos exatos pensamentos dela, e isso a assustava. 
Por prudência ela ergueu mais um muro a frente. Ela jamais poderia permitir tanta proximidade sabendo da distancia. Então, mais uma vez vestiu a armadura, esfriou os diálogos, e dissimulou as sensações que ele parecia saber que ela carregava, e optou por uma nova tática para aquele relacionamento.
Começaram do zero de novo. A 700 km de distancia. Com a certeza de que para um deles a quilometragem seria o alimento da desconfiança.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Saudades

Alguns amigos são capazes de descascar minha desconfiança e amparar meus sentimentos. São poucos e raros os que me fazem sentir confortavel e com o desejo de te-los ao meu lado. E os que são capazes de me fazer sentir a verdadeira amizade viva, me deixam com uma saudade gigantesca quanto tenho que partir Com aquela saudade boa das horas, das conversas, dos risos e das historias, aquela que deixa no rosto o sorriso e o coração apertado na despedida.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Quanto tempo há de durar essa fobia à confiança?
Quanto tempo há de persistir a insatisfação a rotina?
Quanto tempo ainda transitarei por muitos nomes?
Será que ainda há tempo para aquietar a insegurança e permanecer fiel a um unico corpo?
Será que não é muito mundano ser como todos?

domingo, 11 de janeiro de 2009

Há dias que o corpo cansa. Que a mente cansa. Que os olhos se cansam de enxergar o mundo sempre na mesma tonalidade.  

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Tempo, saudades e afinidades

Há coisas que nem o tempo consegue alterar. Em alguns casos, a sua passagem apenas contribui para estreitar amizades, consolidar sentimentos, reafirmar afinidades. Nesses, o tempo assume seu papel de amigo e os dias são contados para matar a saudades.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Historias

Todos têm historias inacabadas nessa vida. Historias e momentos que foram rompidos, sem a possibilidade de desenvolverem o meio e concluírem-se.
Não lhes deram essa possibilidade de fim, apenas lhe cortaram os capítulos abruptamente, sem explicação (ou com explicação que não satisfaz), sem argumentação ou tentativas de lhe dar uma sobrevida. Apenas findo. Um encerramento possuidor do melhor gancho de toda a vida, que transforma toda a ansiedade do desejo do próximo capítulo em desgosto pela historia interrompida.
Historias inacabadas ficam engavetadas por tempos e mais tempos, porem, em algum momento alguém lhe dará a oportunidade para a conclusão. 
Com ou sem final feliz, historias interrompidas ressurgem reclamando sua continuidade.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Experimentando a família

Por um par de horas vivi um "experimento social": festinha de família. Um ambiente no qual predominava as priminhas casadas, seus maridos meia boca, e a infelicidade conjugal, mas todo mundo é muiiiito feliz por ter espalhado a herança genética entre seus três, quatro, cinco filhos! 
Enfim, experimentei uma paisagem alheia ao que conheço, afinal, mamãe me educou para estudar, e não para responder "meu senhor" e desistir da minha identidade em nome de um casamento.
Alem de me divertir pelo julgamento e desapontamento da parentada acerca do meu estado civil, também aprendi sobre alguns “valores familiares”, e descobri que o "meretrissimo juiz" é um grande me@#% (parece que alguém foi processado porque deu uma de esperto). 
Como diria meu primo, quando te perguntarem se não vai casar e ter filhos responda: não, preferi estudar. E gargalhe depois quando se lembrar da fisionomia deles com a resposta, pois para algumas pessoas sempre será inconcebível que uma mulher deseje um futuro profissional no lugar de um bom marido.
P.S: Nada contra casamentos ou compromissos, contanto que os envolvidos possuam autonomia de vontade, e mantenham sua própria identidade. Todo compromisso é antes de mais nada uma parceria, portanto, deve ser encarado como tal.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Feliz Aniversário

Não contabilizo eventos. Não comemoro datas. É um hábito. E diga-se, um costume mal visto e incompreendido por muitos, que crêem que faço pirraça. Mas a verdade é apenas uma: não me animo em "datas especiais" porque a vida me mostrou que todo dia é frágil demais para deixar de ser especial, ou para adiar as comemorações, e que esses marcos nada significam senão mais um dia para comemorar a não vitoria da fragilidade. 
É a minha bipolaridade aflorada que me faz ver a vida entre a euforia da comemoração dos meus dias especiais com o descaso dos meus dias ordinariamente normais.
Mas mesmo assim, confesso que o evento que me "quebrou" para as datas especiais deixou um resquício de criança que adoraria se deslumbrar com festas surpresas e comemorações grandiosas.  
Reconheço que tenho em mim um adulto com uma vontade infantil adormecida. Torcendo para que o descaso ceda vez para a vontade em comemorar. Para que chegue o ano em que se comemorarão datas e marcos especiais. Mas são vontades adormecidas, guardadas lá no fundo, que mal sei como faze-las emergirem novamente. 

E hoje, apesar  de sentir que ainda há uma criança pulando no meu peito, também sinto o dia ordinariamente normal. E celebro com um brinde silencioso a data marcada pelo meu aniversário.


Feliz Aniversário!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Amor inquebrável

Sentaram-se frente a frente. Entrelaçaram as mãos. Encararam os olhos. Dividiram o silencio e os segredos. Por minutos, que pareciam horas, relembraram dos dias felizes, das tristezas, das surpresas e dos sorrisos. Ficariam em comunhão nas historias daquele frágil romance. Mas foi a realidade da vida que fez o menino romper aquele silencio.
-Você sabe que te amo, não é?
-Sei... sei que me dá o amor, mas não o amor da paixão.
-Sinto muito. Mas ainda é amor. Amor de amizade. E amor de verdade.
-Não sinta. Não se justifique. Não tente atenuar. Eu sei que é amor de verdade, sei que é amor de amigo. E é o amor inquebrável.
-Mas não é o amor que queríamos viver...
-Não diga isso. É amor, e depois que parar de doer vai ser o que importará: o amor da nossa amizade!
-Então continuaremos nos amando, mas com uma historia diferente?!
-Sempre! No começo será constrangedor nos encararmos, lembrarmos dos corpos nus e da cumplicidade, e deixarmos apenas o afeto nos possuir. Mas é amor inquebrável...
-Amor inquebrável! Você acredita mesmo que seremos amigos para sempre?
-Não!
-Não?!?
-Dói muito carregar esse amor! Mas vamos fingir que sim, que sempre seremos amigos, que deixaremos o orgulho dos amantes repousar distante da nossa inquebrável amizade, mas isso não será verdade.
Soltaram as mãos. Desviaram os olhares. E sentiram o peso do desconforto surgir naquele espaço que sempre fora recheado com cumplicidade. Despediram-se. Partiram carregando uma esperança encoberta. Desejando que um amor inquebrável fosse capaz de produzir um final feliz. Torcendo para que a vida poupasse aquela amizade.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O Cara

Primeira dose: Cara tímido tentando se enturmar.
Segunda dose: Cara tímido acende um cigarro. Olha para o lado.
Terceira dose: Cara tímido se aproxima do grupo de conhecidos.
Quarta dose: Cara tímido concorda com a cabeça.
Quinta dose: Cara tímido esboça alguns diálogos com os conhecidos.
-Putaquepariu, essa musica é muito foda!
Sexta dose: Cara tímido conversa com a paixão da sua vida (mas ela não sabe).
- Acho seus olhos lindos.
-Você fica tão legal quando bebe, cara!
Sétima dose: Cara tímido tasca um beijo na boca da melhor amiga da paixão da sua vida.
-Nossa, o Cara tá atirando em todas!
Oitava dose: Cara tímido chama um taxi e vai embora com a prima da melhor amiga da paixão da sua vida.
Pela manhã acorda com uma ressaca apoteótica, uma morena nua ao seu lado, e o "grito" do seu celular.
-Alo?
-Cara, sou eu, precisamos conversar sobre ontem a noite. O que você confessou me fez perder o sono.
-...
-Lembra? Aquilo que você disse sentir por mim?
Cara tímido se transforma em uma pessoa mentirosa monossilábica e com amnésia.
- Haha...
-Me encontra pela tarde aqui em casa?
-Haha.
Cara tímido abandona a morena no quarto do motel.
Cara tímido vai para casa, rezando para que a paixão da sua vida não saiba da morena. Abre uma garrafa de vodka e descobre que encontrou a cura para sua timidez, mas será um alcoólatra.